Tratar sobre a relação do varejo com o mercado de trabalho é trafegar em via de mão dupla. Assim como o setor tem sua representatividade sendo uma das mais importantes engrenagens da economia brasileira e representando cerca de 20% dos empregos formais gerados no país, existe o outro lado não menos fundamental nesta composição; o profissional do varejo.
O varejo é caracterizado por sua diversidade na oferta de oportunidades que vão desde pequenos negócios locais até grandes redes nacionais ou multinacionais. Esta variedade de mercados emprega milhões de profissionais dos mais diferentes níveis de qualificação que na grande maioria das vezes ocupam posições conforme sua escolaridade e experiência.
O setor funciona como sendo uma porta de entrada para o emprego formal no país. Isso abrange jovens em busca do primeiro emprego e pessoas em transição de carreira que encontram no setor um espaço para adquirir experiência, desenvolver habilidades e começar a construir uma trajetória profissional. Esta inclusão no mercado de trabalho e redução nos índices de desemprego pode ser conceituada com o vertente social do varejo brasileiro.
Outra característica marcante do varejo brasileiro está na capacidade de geração de empregos formais e informais. A formalidade oferecida por empresas de maior porte, garantindo aos contratados direitos trabalhistas, tais como carteira assinada, acesso ao benefício da Previdência Social, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), dentre outros, não corresponde à realidade de pequenos comércios e empreendimentos familiares. Uma realidade bastante presente depois da pandemia. Muitas empresas retomaram suas atividades de forma precária e sem condições de arcar com os encargos da formalização.
O crescimento do comércio eletrônico e o avanço das tecnologias digitais transformaram a relação de trabalho no varejo. Na mesma proporção em que surgiram demandas para profissionais habilitados no uso de plataformas foi reduzida a quantidade de vendedores em loja. Algumas redes procuram fazer a interseção destes dois cenários através de treinamentos de capacitação, pensando na experiência de compra do consumidor e para garantir a competitividade no mercado. O profissional do varejo “moderno” precisa ser multifuncional.
Outra pauta que precisa ser abordada está na desigualdade salarial e barreiras para ascensão a posições de liderança enfrentada pelas mulheres no mercado de trabalho. Apesar de desempenharem papel predominante em várias categorias do varejo, elas ainda não estão equiparadas ao sexo masculino quando se trata de oportunidades e remuneração condizente com as funções exercidas.
Mais um dilema típico do varejo brasileiro está no cumprimento – ou falta dele – no que se refere à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Nem sempre os direitos dos trabalhadores formais são devidamente respeitados. A jurisprudência dos litígios trabalhistas está quase sempre relacionada a jornadas excessivas, falta de pagamento de horas extras, variados tipos de assédios e desrespeito a intervalos legais. Cumpre ressaltar que sejam práticas irregulares cometidas por algumas empresas. Isso não representa a característica do setor e não deve ser visto como um problema generalizado.
O texto da Reforma Trabalhista de 2017 trouxe mudanças significativas para as relações de trabalho no varejo brasileiro. Destacam-se tópicos como a ampliação da possibilidade de celebração de contratos temporários e maior flexibilidade na negociação de jornadas. Sob o ponto de vista mercadológico as mudanças descritas na reforma foram positivas, mas também geraram críticas de alguns segmentos da sociedade por tornarem ainda mais precárias as condições de trabalho no país.
A globalização faz aumentar os níveis de exigências das empresas pensando na manutenção da competitividade no mercado. Essa necessidade de adequação ao cenário mundial foi convertida em metas cada vez mais desafiadoras e cobranças intensivas pelos resultados estimados. Saber lidar com esta pressão pode ser descrito como o maior desafio dos profissionais do varejo na atualidade.
O Texto acima é parte do capítulo destinado à relação de trabalho no varejo no Brasil
O Livro VAREJO NA ERA DO VAR será lançado em breve