Na condição de figurar como um dos mais importantes segmentos da economia brasileira, naturalmente o varejo não ficaria imune às significativas transformações causadas pelo processo de globalização. Um fenômeno que expandiu as interconexões entre diversos países a partir da segunda metade do século XX. O Brasil passou a integrar de forma ativa a economia global, experimentando mudanças na sua estrutura produtiva e nas relações comerciais.
A abertura comercial permitiu que o Brasil reduzisse barreiras tarifárias e não tarifárias, intensificando o comércio com outros países. Esta mudança impulsionou as exportações de produtos agrícolas e industrializados. Em contrapartida também fez aumentar a concorrência interna.
O país passou a atrair capital estrangeiro, o chamado Investimento Estrangeiro Direto (IED). Com isso, setores como indústria, serviços e infraestrutura ganharam novas dimensões na economia nacional. Mas a distribuição do IED não foi igualitária e sua concentração geográfica em determinadas regiões enfraqueceu alguns setores que ficaram em situação de vulnerabilidade.
A indústria nacional passou por uma reestruturação produtiva, com a modernização de parques industriais, gerando maior competitividade no mercado global. Esta mudança não ocorreu de forma unificada e causou uma distorção entre segmentos industriais com maior grau de desenvolvimento, enquanto parte de alguns segmentos sofreu um processo de “desindustrialização”, gerando fragilidade em algumas cadeias produtivas.
Foi um período em que empresas estatais foram privatizadas com o objetivo de aumentar a eficiência e atrair novos investimentos. Embora tenha causado muita controvérsia, sobretudo no aspecto político, o processo contribuiu para a modernização de vários setores e proporcional redução do papel do Estado na economia.
O varejo que trazia na sua origem uma característica local e regional passou a conviver com novas dinâmicas competitivas e suas oportunidades de crescimento passariam por uma necessária adequação a um cenário mais amplo e não menos desafiador.
Foram empresas que trouxeram modelos de negócios mais eficientes, gestão de estoque mais aprimorada, e preços bem mais competitivos. Uma das conseqüências de toda esta transformação instantânea no segmento foi o desafio enfrentado pelos pequenos e médios varejistas – que sem a mesma capacidade de competição com as marcas estrangeiras – precisou modificar seu tipo de atendimento para uma visão mais personalizada e valorização dos produtos locais.
A globalização gerou mudanças significativas no comportamento do consumidor em nosso país. O conhecimento sobre marcas, produtos e tendências globais foi ampliado com o acesso à internet, tornando o público mais informado e exigente. A abertura dos mercados impactou diretamente a logística e as estratégias de marketing ficaram mais complexas para atender a um público mais conectado e diversificado.
O varejo ganhou uma conotação digital. A abertura impulsionou a expansão do e-commerce no Brasil, através de plataformas como Amazon, Mercado Livre e AliExpress. Foram empresas que rapidamente conquistaram espaço no mercado nacional. Motivo pelo qual o varejo tradicional precisou investir em tecnologia para também conseguir oferecer experiências de compras digitais.
Com o advento dos aplicativos , sistemas de pagamentos on line, integração entre lojas físicas e virtuais, o setor foi resgatando parte do terreno perdido para marcas internacionais. Essa transição não mudou apenas a forma de consumo dos brasileiros. Ela ampliou o alcance das empresas, permitindo que negócios locais possam vender seus produtos para todo o país ou exterior.
Questões relacionadas à sustentabilidade e responsabilidade social no varejo chegaram a nosso mercado de forma mais efetiva depois da globalização. Seguindo uma tendência global, o consumidor brasileiro passou a exigir mais transparência sobre a origem dos produtos, impacto ambiental e sobre as condições de trabalho nas cadeias produtivas. Mudança de perfil que obrigou as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis em sua produção como no uso de materiais recicláveis, redução de desperdícios e valorização de fornecedores locais.
Tema com abordagem no livro Varejo NA ERA DO VAR – Lançamento em breve